A Grãozinho de Arroz
Esta foi uma história que escrevi muito antes de chegar ao momento de a editar, isto porque ao contrários das personagens anteriores, não precisei de pensar em como seria este protagonista.
Desta vez eu já sabia perfeitamente o que queria em relação ás caraterísticas físicas desta personagem, isto porque uma amiga minha engravidou e o pai da criança disse que a filha estava na barriga da mãe do tamanho de um grão de arroz.
Ora, o impacto daquele comentário foi de tal encanto que assim que me sentei a escrever, comecei a registar como seria a próxima personagem da minha próxima história.
Eu não escrevi de imediato a história. Precisei de tempo para pensar qual a problemática que a história iria acolher e, certamente, aprofundar o estudo da deficiência que eu escolhesse.
Entre a construção da personagem e o desenrolar da história, levou tantos meses que deu tempo para a bebe nascesse. A menina cresceu e entretanto já eu tinha escrito toda a história do livro da grãozinho de arroz, mas ainda não tínhamos feito as ilustrações.
Assim que a bebe começou a ter algum equilíbrio, levei-a para minha casa a passar uma tarde comigo. Coloquei à frente da menina uma folha de papel coberta de cola, ao lado dela um quilo de arroz e observei.
A menina divertia-se a espalhar arroz em todas as direções. Mas foi desta atividade nasceram os fundos da ilustração.
Neste livro, pensei que o tema a ser abordado poderia ser a complexidade da cegueira, mas que desta vez não seria a personagem principal a possuir esta caraterística, mas sim, a comunidade que ela encontrou na história.
Precisei de recriar uma situação de cegueira em mim, para ser mais fácil de sentir e escrever sobre esta condicionante.
Num certo dia, quando acordei decidi vendar os meus olhos.
Comecei por tentar fazer as minhas tarefas matinais, desde fazer a cama, lavar os dentes, vestir-me, e por ai fora. Tudo, mas tudo foi tão angustiante.
A casa que eu estava a viver já há anos, passou a ser um local completamente novo e até bastante perigoso. Apercebi-me que todos os meus moveis tinham cantos perigosos, os quais magoei as pernas varias vezes nesta manhã.
Não tinha a noção das distancias, nem de onde estavam as paredes. Eu andei vagarosamente por toda a parte com os braços esticados em defesa do meu corpo.
Recordo que uma das coisas que fiz que me levou a parar com a experiencia, foi no momento que eu decidi lavar a loiça com os olhos vendados. Quase que feri as mãos com uma faca.
Eu não tinha mais energia para continuar com aquela experiencia.
Dirigi-me à sala e deitei-me no chão a respirar, a me concentrar e a acalmar. Depois tirei a venda e escrevi.
Como nos livros anteriores, foi selecionado um grupo de crianças e com a coordenação de atelier da responsabilidade da Leonor Jesus, foram feitas imensas figuras em pano que deram origem à ilustração deste livro.
“A Grãozinho de Arroz” foi lançado na terceira no mesmo ano que a “Princesa sobre rodas” foi lançado em São Jorge. Foram dois projetos literários muito intensos.
A “Grãozinho de Arroz” foi um livro que recebeu apoio financeiro tanto do município de Angra do Heroísmo como da Praia da Vitória e por este motivo foi possível editar 3 mil exemplares.
Durante algum tempo voltei às escolas a fazer sessões de sensibilização e foram oferecidos exemplares a todas as crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo da ilha toda. Os três mil livros ficaram esgotados com este objetivo alcançado.
Desde essa época por diante, fui recebendo vídeos e fotos de professores a trabalhar a nível textual essa história com as crianças em contexto de sala de aula. A minha alma engrandeceu com cada um destes testemunhos.
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