BICHINHOS CURIOSOS
Eu fui convidada a desenvolver horas de conto na biblioteca da escola Tomas de Borba. Aceitei o convite e fui. Mal sabia eu que, de uma destas horas de conto, iria nascer um novo livro.
Estava eu a reorganizar o espaço para fazer a segunda sessão de conto, quando começaram a entrar as crianças acompanhadas pelos seus professores. Neste segundo grupo, entrou um professor de educação física de máquina fotográfica pendurada ao pescoço.
Comecei a hora de conto e fui vendo que estava a ser fotografada. Ora de um plano, ora de outro, ora de um perspetiva, ora de outra, mas a certa altura esse movimento acalmou. Eu pensei que o professor tivesse saído da sala e que eu não tivesse dado conta.
Quando, a certa altura me virei, estava ele de cócoras no chão, num espaço minúsculo entre dois armários que até me custou a acreditar que coubesse ali um adulto. Foi esta visão que me ficou registada no cérebro.
No final do conto, após as apresentações eu perguntei ao professor fotógrafo o que ali fazia, ele simplesmente respondeu que o objetivo era apanhar uma foto gira.
Eu estava ansiosa por chegar a casa, para escrever.
Assim que agarrei no papel e na caneta, escrevi com velocidade o titulo “Bichinhos Curiosos”. Curiosos não no sentido de ser curioso no querer saber, mas bichinhos curiosos no sentido de interessantes, tendo em conta as acrobacias que fazem para conseguirem uma foto diferenciada.
O meu problema foi que, depois de escrever o titulo, nada mais surgiu da narrativa. Eu sabia o que queria e como queria no que respeita a ilustração, mas a história em si, nada de nada.
Então avancei para a construção da ilustração de forma a que eu pudesse conhecer melhor os fotógrafos e como eram eles na sua vivencia da arte fotográfica. Convidei dois fotógrafos. O Hugo Bernardo, que me inspirou para este titulo e o Tiago Alonso.
O objetivo de ter dois fotógrafos no terreno era conseguir que um fotografasse o outro para captar as posições criativas que fazem com o corpo a fim de conseguirem uma foto original.
E assim foi, revelou-se uma tarde incrível. Fiquei a observar a gíria que utilizavam no seu dialogo, as decisões de planos e perspetivas, e também o quanto se divertiam enquanto fotografavam um ao outro.
Foi com toda esta informação que escrevi a história dos bichinhos curiosos. Foram estes registos fotográficos que serviram de inspiração ao Tiago Costa para a ilustração.
Atualmente, o livro bichinhos curiosos continua a ser um dos meus livros candidatos à minhas horas de conto por ser de fácil leitura e sentido de humor.
Flame