A FADA SOLÁRIA

Nos tempos de escola, mais propriamente no segundo ciclo, estamos sempre sujeitos a concursos de qualquer disciplina. Certa vez, a professora de português, lançou à turma, o desafio de cada um de nós escrever uma história e que estas histórias ficariam habilitadas a ganhar primeiros, segundo e terceiro prémios.

No momento em que a professora estava a falar, já eu estava a construir a história na minha cabeça. Fui para casa e escrevi até dar por concluída a tarefa. Considerei que se fizesse os desenhos da história, que esta ficaria ainda mais bonita. E fiz. Depois de tudo feito entreguei à professora na certeza de que aquela “Fada Solária” fosse um sucesso garantido. Mas na altura não foi. Houve a entrega de prémios aos três primeiros vencedores e eu recebi um certificado de participação.

Eu estava inconsolável com o desfecho daquele concurso e por este motivo, fui ao encontro da professora saber o que tinha acontecido para que a minha história nem tivesse direito a um terceiro lugar. Ao que me foi dito que a história tinha demasiados caracteres e que ultrapassou grandemente o limite pretendido.

Cheguei a casa e arrumei a história e não voltei a pensar mais no assunto.

Alguns anos passaram. Num dia, eu estava numa das muitas conversas com o Padre José Gregório, a única pessoa em quem eu confiava para esclarecimento das minhas dúvidas existenciais e espirituais, e ele perguntou o que me poderia fazer verdadeiramente feliz naquele preciso momento. E eu respondi-lhe que seria editar um livro. Então ele disse, trás a história que vamos fazer por acontecer.

Fiquei radiante de tal forma, que eu queria o livro editado no próprio dia. Apesar de saber que não era possível, pretendi encurtecer o processo recorrendo à história do concurso que não ganhei na escola. Mas não a encontrei em lado nenhum. Certamente, acabou no lixo nas arrumações de Verão.

Nesta altura eu estava a fazer part time numa loja, pouco movimentada, que vendia CDs de musica. Eu passava o tempo a ouvir musica. Mas eram tantos os Cds que sai de lá e não os consegui ouvir a todos.

Adiante.

Aproveitei os tempos mortos para reescrever “A Fada Solária”. Ficou muito maior do que aquilo que era na sua origem. Como sempre gostei de desenhar, aproveitei também para fazer aos serões, no meu quarto, os desenhos que viriam a ser a ilustração.

Depois de tudo organizado para enviar à editora, o Padre Gregório associou-se à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, e todo o suporte financeiro para a edição foi conseguido.

Pouco tempo depois, estava o sonho realizado e eu estava verdadeiramente feliz, tal como tinha imaginado.

Uma vez que tinha aquele livro, dediquei parte do meu tempo a visitar escolas levando “A Fada Solária” e também o meu testemunho às crianças, de que não havia idade para escrever histórias, nem limite de caracteres para a nossa imaginação e criatividade literária.

Ainda hoje em dia, a par dos hábitos de leitura saudáveis, o escrever livremente continua a ser a minha mensagem. Isto porque, considero a escrita uma nobre forma de comunicação e um libertador meio de expressão.

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